Saturday, September 27, 2014

Findhorn, coletivo desorganizado e socialismo como consequencia natural.

Há uns dois anos, um vizinho que eu tinha quando morava no interior da Irlanda, me emprestou um livro chamado "The magic of Findhorn". Eu deixei o livro encostado, até porque julguei pela capa e pelo meu vizinho que era ligado em misticismo que o livro seria alguma bobagem de ficcao e fantasia. Estava enganado. Meses depois, depois de me livrar de um emprego em que eu tava muito insatisfeito com tudo, eu peguei o livro pra ler. Devorei acho que em uma semana. O livro comeca contando as experiencias do escritor numa comunidade onde tudo parecia ignorar as leis naturais. Vegetais cresciam em solo antes infértil por exemplo, e alguns eventos místicos aconteciam no lugar. Até aí eu pensava que era mesmo um livro de ficcao.

Mas, o lugar existe e está localizado na Escócia. Hoje é uma comunidade que conta com centenas ou talvez milhares de pessoas do mundo inteiro. A idéia é bem simples, viver de forma cooperativa e conectada espiritualmente com o planeta. É também um retiro espiritual e eles administram constantemente workshops sobre permacultura e vida sustentável.

Naquela época eu já tava fascinado com esse negócio de viver bem com o mínimo de $ possível. Nao estava contente no trabalho e queria tentar algo diferente. Esse livro veio na hora certa. Eu poderia ir pra lá tranquilamente, mas na época faltou dinheiro. Logo depois acabei arrumando outro emprego entao deixei a idéia encostada.

Hoje em dia eu sei que existem várias dessas comunidades espalhadas pelo mundo e no Brasil mesmo tem algumas. A idéia é bem simples, voce vive do que voce planta, voce recicla, e usa energia solar por exemplo, além da própria moeda de troca local.

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Partindo pra um campo mais filosófico e político, chegamos a um ponto onde tá todo mundo em frenesi. Nunca foram vendidos tantos soníferos, tranquilizantes, drogas legais que sao prescrevidas e adquiridas tao fácil quanto comprar água no mercado. Quem veio daquela era do sexo, drogas e rock n' roll dos anos '70 hoje está calminho e sob controle gracas a valiums e prozacs. No 'I am Ozzy', autobiografia divertidíssima do sujeito mais louco do heavy metal, ele conta como tem que balancear as mil drogas que ele toma pra se manter sóbrio. Uma delas causa impotencia e daí ele toma viagra antes de transar, só que o antidepressivo inibe a ejaculacao. Resultado, Ozzy fica com erecao por horas, mas nao chega nos finalmentes nunca. Se temos essas drogas legais livres leves e soltas, por outro lado voce tem campanhas e campanhas anti-drogas ilegais, seja na tv, nas ruas e muito dinheiro é gasto com elas, além de tornar Rehabs em verdadeiras empresas. Todo esse aparato me deixa mais convencido que nosso sistema é muito hipócrita e recheado de tapa-buracos. Tapa-buracos como seguros de saúde, clínicas de aborto, instituicoes de caridades pra fome na África, ou ONGs que sao verdadeiros negócios. Além desses tapa-buracos, estamos há muito tempo na era do descartável. A informacao circula 1000 vezes mais rápida, mais abrangente e em maior quantidade do que circulava há 20, 30 anos. É desnecessário dizer o quanto esse fenomeno afeta nossa forma de pensar.

Lembro que ouvi um cidadao dos EUA dizer, há décadas atrás, que os americanos sao um povo que se entedia facilmente, e precisam estar constantemente em contato com o novo, com algo que entretenha-os. Pois, guess what? We are living in America, como diz o Rammstein. Estamos cada vez mais americanizados e precisamos de entretenimento constantemente pra nutrir nossas vidas entediantes. Por outro lado faltam idéias. O mundo 'livre', quem diria, vive num ócio coletivo, ou seja, estamos pensando igual e respondendo igual a estimulantes. Aquela crítica que os capitalistas sempre tiveram ao socialismo, de dizer que nós somos seres humanos diferentes e que tentar socializar nao dá certo por conta disso, nao se faz valer no sistema que vivemos. Vivemos pra sobreviver, pra pagar contas, trabalhar, e se divertir dois dias por semana. As redes sociais sao um antro de gente carente por atencao, pessoas que querem se destacar sobre as demais, já que na vida social provavelmente essas pessoas nao passam de mais uma. O narcisismo é mesmo a única maneira que essas pessoas tem pra manter a individualidade delas. Se tem algo que eu nunca acreditei e que está fadado a morrer é o culto a personalidade. Os heróis de antigamente nao passam de figuras em livros de história hoje em dia. Faltam líderes de movimentos hoje, talvez por faltarem assuntos que convencam a massa de que ela deve cultuar um líder. O que se tem hoje em dia sao grupos de protestos, mas nenhuma lideranca. Ninguém ousa! Até na música isso se reflete, na pop music hoje em dia é muito, mas muito mais difícil voce ficar famoso e sustentar uma carreira por muito tempo do que era 20 anos atrás. Estamos mesmo na era do coletivo desorganizado.

Sendo a favor de um modelo social, nao quer dizer que eu vá ser igual a voce e que vamos todos agir igualmente. Vamos sim, ter as mesmas oportunidades de educacao, os mesmos direitos. - Sou a favor de muito mais direitos trabalhistas, como exemplo, a diminuicao da jornada de trabalho pra 4 dias/semana, e assim, teremos mais tempo pra viver. Em países desenvolvidos hoje em dia se trabalha bem menos horas porém se produz mais. Com isso se tem mais tempo pra viver. Se houver menos competicao no local de trabalho e mais cooperatividade, eliminaremos sentimentos fabricados pela sociedade ultracompetitiva, como a inveja, stress e outros sentimentos negativos. - Sou a favor da legalizacao das drogas (apesar de nunca ter usado nada além de alcool). - Sou a favor da distribuicao de renda, extincao de monopólios, incentivos aos micro/pequenos mercados e mercados locais, sou a favor da descentralizacao de poder, por exemplo, sou a favor de Estados sendo totalmente desfragmentados em comunidades de auto-gestao. Os modelos escandinavos sao os que mais próximos estao de algumas dessas práticas que eu citei, ou seja, é totalmente viável pensar num modelo assim. A grande dificuldade é que, um modelo pra 'pegar' só existem duas maneiras, ou se torna uma causa abracada mundialmente, pelos esforcos de absolutamente todos os governos do mundo, ou se impoe na base de muitas vidas sacrificadas e a forca. Eu, logicamente, prefiro pensar que a primeira é a melhor opcao, uma transicao gradual e conjunta ia levar-nos a uma sociedade muito melhor. A única arma que nós contamos que tem o poder de fazer isso é o Estado. Ou seja, precisamos de mais Estado, pra daí termos uma democracia participativa, como o que ocorreu na Islandia e a partir daí, pensarmos na descentralizacao de poder e fim da repressao, coercao e controle.

Por fim, nao posso em hipótese alguma concordar com o conformismo daqueles que insistem que nao existe alternativa pra esse modelo. O mesmo conformismo que diz que o capitalismo tem muitas falhas mas que nao tem nada melhor. Esse conformismo é apenas uma prova de o quanto estamos medíocres, de o quanto aprendemos a absorver tudo que é falácia que é passada pra gente e usar aquilo como verdade. Tudo é mutável, até o sistema e relacoes de poder. Vai por mim ;-)